Como esquecer à minha maneira


Depois que eu assisti "Como Esquecer", na semana passada, fui catar por blogs uma opinião crítica sobre o filme. Li muitos desagrados quanto à sensação de repetição e insistência nos mesmo textos, já que a protagonista, por ser professora de Literatura, poderia buscar certas referências em outros livros, não apenas no Morro dos Ventos Uivantes; e as frases enlatadas e forçadas nos diálogos das personagens. Só achei válidos os monólogos, e acho que o texto repetitivo ilustrava bem o estado da Júlia (Ana Paula Arósio): insistente naquele discurso e naquele sentir. O texto grudou nela, e ela se apegou à ele naquele momento.
Apesar disso, foi um filme interessante pra mim. Cada um tem sua maneira de esquecer. Uns poetizam, sofrem visivelmente e intensamente. Outros mesmo doendo tentam a vida lá fora, bebem e não esquecem, sempre repetindo embriagadamente o caso que os aflige. E tem aqueles também que batem portas, gritam na cara de quem nada tem a ver com a história, vomitam desafetos e criticam as pessoas pra sentir que todo mundo é tão errado assim, sim.
É tão importante não fingir que a dor não existe, mas eu vivo ela da minha forma. Eu sei o que sinto e o que fazer com isso. E quando não sei, ainda faço algo. Sempre faço. Achava que guardava, mas na verdade a dor estava aqui, disfarçada de mudanças físicas, de noites mal-dormidas, vestida de falta de fome ou registrada em textos e desenhos intensos. Eu vivi.
Talvez tenha sido teimosa em querer sofrer tal qual pessoas me disseram ou mostraram sofrer. Estaria eu fugindo de novo de mim - deveria ser mais obvia? Mas eu esqueci que cada um dança a dança da sua forma...
Pronto. Esqueci. Da minha forma.
(não insista, não quebrarei copos, nem gritarei em janelas de novos estranhos)

Inverno

dias chuvosos
céu cinzento
cabelos úmidos
sapatos encharcados
pele arrepiada
frio insistente
aqui dentro
dias ensolarados

Não fazemos

Enlouquecida estava, descontrolada, por dentro tempestades. Chorou seco, engoliu forçado, ao que dizia calmamente. Não dá, não dá mais. Te faço mal, te causo dor. Me deixa, nos deixa. O silêncio seguiu por alguns minutos, então a discussão estourou. Não! Não deixo, porque te amo! Amor não é tudo. Amar basta! Não se vive só de amor. Se vive! Não, precisa de mais, em relação. Então o que decides? Não sei. Não sabe? Eu também não sei. O que fazemos? Não fazemos. Deixamos quieto, calmo. Só respiramos, deixamos ir, esta bem? Sim, quero respirar. Então, pegou a outra nos braços, afagou e respirou. Respirou pela primeira vez em meses. Sentiu a calmaria no oceano da sua mente. Cheirou os cabelos curtos dela, e sentiu novamente. Fagulhas. Lembrou a pele, o quente dos lábios. Procurou a boca, encontrou a língua. E no fazer amor novamente, tímido, o primeiro de um recomeço, reencontrou seu prazer, sua vontade.

Caladas, ofegantes, cansadas de forçar. Juntaram as mãos e dissolveram na cama, cobertores quentes se fundindo à pele. E dormiram.